
O Departamento de Defesa dos EUA iniciou uma auditoria após uma denúncia feita à sua linha direta, alegando que a Boeing teria cobrado preços excessivos da Força Aérea (USAF) por um dispensador de sabão utilizado nos lavatórios da aeronave C-17 Globemaster III.
Fabricado inicialmente pela McDonnell Douglas em Long Beach, na Califórnia, o C-17 é a principal aeronave de transporte à jato dos EUA, sendo essencial para deslocamento de tropas e equipamentos, sendo o principal braço do Comando de Mobilidade Aérea (AMC).
A última unidade fabricada foi entregue em 2015 e a linha de montagem do avião foi desfeita. Antes disso, em 1º de outubro de 2011, foi firmado um contrato de 10 anos com a Boeing no valor de US$ 11,8 bilhões de dólares para o Programa Integrado de Manutenção da frota do C-17 (GISP).
Mais recentemente, em 28 de setembro de 2021, foi assinado um novo contrato de US$ 23,8 bilhões, para estender o e à frota C-17 até 2031. Por meio dos contratos GISP e G3, a Boeing adquiriu peças de reposição para o C-17, reembolsadas pela Força Aérea.
Entretanto, a auditoria revelou que a USAF nem sempre pagou preços considerados razoáveis para peças de reposição do C-17, de acordo com o Regulamento Federal de Aquisições. Um exemplo citado foi o dispensador de sabão, que apresentava uma margem de lucro de 7.943%, ou mais de 80 vezes o custo praticado no mercado.
Em análise detalhada de 46 peças de reposição, foi concluído que a USAF pagou valores justos e razoáveis por apenas 9 peças, representando 20% do total analisado, avaliadas em US$ 20,3 milhões. Em outros 54% dos casos, envolvendo 25 peças avaliadas em US$ 22,2 milhões, não foi possível determinar a razoabilidade dos preços pagos. E em 26% dos casos, envolvendo 12 peças avaliadas em US$ 4,3 milhões, os preços foram considerados abusivos.
Os problemas identificados ocorreram devido à falta de validação dos dados utilizados na negociação dos contratos, ausência de monitoramento de preços durante a execução do contrato e a falta de uma revisão minuciosa das faturas para garantir preços justos antes do pagamento. Além disso, o Departamento de Defesa não forneceu orientações claras aos responsáveis pela negociação para verificar a precisão das listas de materiais ou revisar as faturas quanto aos custos aceitáveis e razoáveis.
Como resultado, entre os anos fiscais de 2018 a 2022, a USAF pagou um total de US$ 992.856, quase 1 milhão de dólares, a mais do que o necessário por 12 peças de reposição nos contratos GISP e G3, resultando em prejuízo para os cofres públicos.
A auditoria foi realizada pelo Inspetor Geral do Departamento de Defesa, e encaminhada ao núcleo do Pentágono para análise e novos procedimentos. O documento na íntegra está disponível neste link.