
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou ontem, 30 de julho, Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas, o lançamento de um treinamento para policiais civis, militares e técnicos-científicos para lidar com as ocorrências envolvendo esse tipo de crime no estado.
A intenção do governo é capacitar os policiais para identificarem e lidarem com o problema, dentro de uma política pública de enfrentamento ao tráfico humano, que cresce em todo o mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o tráfico de pessoas atinge cerca 2,5 milhões de pessoas, movimentando aproximadamente US$ 32 bilhões anualmente.
“O tráfico humano está escondido entre as demais ocorrências, e acaba sendo pulverizado. A ocorrência pode estar relacionada ao tráfico de drogas e outros produtos ilícitos, pode estar escondido atrás de outros crimes”, justificou o capitão Arley Topalian, do Centro Integrado de Comando e Controle, da SSP. “É preciso jogar uma luz sobre o problema para sabermos como lidar com a vítima desse crime, que vai precisar do e do estado.”
O curso possui três módulos, com aulas elaboradas por especialistas, com abordagem sobre o procedimento, encaminhamento da vítima e identificação da situação de tráfico de pessoas durante as ocorrências. Policiais militares, civis e técnico-científicos participaram da criação do material, que teve o apoio da organização não governamental The Exodus Road, que atua na luta global contra o tráfico humano.
“Nossa missão é cooperar com a criação desse protocolo para engajar os alunos, de modo que entendam o problema, pois é um crime que está crescendo em todo o mundo”, disse o vice-presidente internacional de programas da entidade.
A capacitação começará por agentes que atuam na zona norte da capital paulista, onde está localizada a Rodoviária do Tietê — a maior da América Latina — e por ter nas imediações um histórico de ocorrências envolvendo o tráfico de pessoas. Os policiais que trabalham na área do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, também serão treinados, devido ao grande fluxo de ageiros.
Os agentes serão cadastrados e terão o à plataforma da SSP a partir de 12 de agosto. Eles terão o prazo de 30 dias para concluir o treinamento. A partir disso, os policiais que atuam nas áreas selecionadas vão ter um protocolo estabelecido de atuação, para que em a atuar para identificar as diferentes faces do crime.
De acordo com a perita criminal Monica Midori, que participou da elaboração das aulas, o tráfico humano possui características únicas e saber identificar cada situação é fundamental para a coleta de provas, que será parte essencial da investigação. “O curso vai abrir os olhos dos policiais para esse tipo de ocorrência. Elas estão por aí, e a gente não consegue naturalmente identificar o tráfico de pessoas, porque está sempre por trás de outras ocorrências”, contou.
O capitão Nelson Vieira afirmou: “A Polícia Militar tem um papel muito importante em todas as frentes de enfrentamento ao crime de tráfico de pessoas. O policial, durante o dia, lida com uma série de situações diferentes, e esse olhar do policial treinado, crítico e sensibilizado pode fazer a diferença na vida de uma pessoa que está ando por uma situação de completa degradação da sua dignidade e dos seus direitos”.
O trabalho representa uma integração das forças de segurança do estado, segundo a delegada Barbara Travassos, da Delegacia de Investigações sobre Pessoas Desaparecidas. “É uma situação que está invisibilizada e, por isso, as vítimas estão vulneráveis. Além de saber identificar essa situação, é necessário acolher e encaminhar para o serviço de proteção dessa vítima”, explicou.
Ainda conforme a delegada, a integração é necessária porque nesses casos é preciso acionar uma rede de apoio complexa, seja de serviços municipais, estaduais ou consulados. “E todas essas questões precisam ser articuladas para minimizar o sofrimento da vítima”, pontuou.
As principais situações de tráfico de pessoas estão relacionadas a exploração sexual de mulheres e crianças e ao trabalho análogo à escravidão. “É importante ter um olhar macro para esse tipo de crime, caso contrário a gente só vai conseguir identificar uma questão menor do que o tráfico de pessoas”, observou Giuliano Farias, do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, da Secretaria da Justiça e Cidadania do estado.
A agente de desenvolvimento social da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juliana Oliveira, finalizou dizendo: “O objetivo desse trabalho é que todas as políticas e órgãos relacionados à proteção de pessoas em situação de trabalho escravo ou tráfico humano possam oferecer o atendimento mais adequado com a articulação entre a rede para superação de situações de violação que envolvam tanto o trabalho escravo quanto o tráfico de pessoas”.
Informações da SSP-SP